30 de abr. de 2012

HAVERÁ GRAÇA EM UMA DESGRAÇA?
 
Pois bem, pela segunda vez estive no galpão LUPUS BIER, em Fortaleza-Ceará, para rir à toa e descontraidamente, com os fantásticos e carismáticos comediantes que aquele maravilhoso Estado faz florescer para o mundo e, iguais a mim, outras tantas 1.000 pessoas, aproximadamente, viveram momentos de total descontração em ambiente farto de som, comida, gente naturalmente desiguais e bebidas a “rodo”, era só ter grana para pagar. Olha que observei que muitos tiveram, pois em curto espaço de 2 horas vi em uma das mesas secarem 3 barris de chopes, daqueles que servem em mesas individuais, fora os whiskys e outros derivados da boa cana-de-açúcar ou malte, naturais da terra onde nasceu à tradicional Ypioca.

Lá estava eu e um “bando” de gente da minha família curtindo de montão com tudo o que acontecia, muita alegria, algumas idas e vindas às iguarias que estavam por conta da tal “comanda”e era só festa, noite adentro.
De repente, escutei um barulho característico do nada por conta de coisa alguma e muito menos com consequência de algo. Na verdade, o meu subconsciente alertou-me para: se algo acontecer de errado ou fora da normalidade do festão que vivíamos O QUE FAZER?
 
Passei, então, em meus pensamentos a fazer o cenário oposto ao que vivíamos, ou seja: imaginei gritos ao invés de vozes, choros ao invés de risos, tapas ao invés de aplausos, calor ao invés de vento fresco, correria ao invés de compassada caminhada, empurrões em substituição ao comum “com licença” e o pior: crianças disputando espaços com os adultos em igualdade de condições, idosos atropelados, necessitados por cuidados especiais sendo especialmente descuidados, etc.

CHOREI INTERIORMENTE e confesso : fiquei, por algum tempo, em estado de pavor, preocupação e inquietação.
Comecei, por conta do medo que o meu subconsciente martelava a minha mente, a sondar, discretamente, o ambiente e vi:
30 potentes ventiladores elétricos funcionando a todo vapor;
4 telões elétrico-eletrônicos em projeções simultâneas;
30 projetores (tipo spot) de luz, sabe lá Deus de quantos watts, lançando seus raios encantadores;
4 fogões a gás (tipo industrial) em labaredas incandescentes esquentando o "rango";
1 forno à lenha em alta temperatura cozinhando as pizzas;
Estufas elétricas responsáveis pelo aquecimento dos alimentos;
Potente aparato sonoro com imensurável número de watts, fios e apetrechos dos mais diversos;
Bastante mesas e cadeiras com espaços mínimos de separação entre elas;
Desníveis acentuados do piso, em áreas diversas de circulação;
Apenas 2 pequenos extintores de incêndio, próximos aos sanitários;
Discretas, quase imperceptíveis, sinalizações de orientação de segurança;
Apenas 1 (uma) porta de saída bloqueada pelo sistema de abertura da mesma (apenas uma banda) e um “baita” setor de gestão onde funciona o bar, o caixa e um palco suspenso, com formato de um barco, congestionando brutalmente tal porta;
1 (uma) outra porta ao lado direito da entrada principal que permanecia fechada com uma trava de ferro e ao fundo de muitas cadeiras e mesas, “entupidas de gente”.
O medo não foi maior porque o show de Adamastor Pitaco e Alex Nogueira (parecem estes os nomes dos artistas que se apresentaram no período do Carnaval/2012) embalava os nossos pensamentos e nos conduziam a situações hilárias que focava, apenas, momentos felizes.
NÃO TIVE A MÍNIMA DÚVIDA que se houvesse algum ruído forte, algum grito mais histérico, algum clarão mais descompassado, mesmo em tom de brincadeira ou de maldade intempestiva de alguém, talvez eu não estivesse, aqui, indicando tal reflexão.
A organização é tão frágil que, além dos itens de insegurança, todos pagam as suas contas de consumo através de comandas, APÓS O EVENTO. Este procedimento já gera uma gigantesca fila dos pagantes em condições normais, imaginem se em condições de fuga desordenada pelo pavor os proprietários, mesmo que se quisessem facilitar a saída rápida de todos em situação de emergência, o que não acredito, não teriam a mínima condição de fazer isto sem atropelos, tumultos ou sofrimento de muitos.
Agrava-se a tudo isto a cobertura do Lupus Bier ser de TOLDOS PLÁSTICOS, portanto altamente inflamável. 

Deus! Onde anda a preocupação com os semelhantes. Um local como o Lupus Bier deveria ter, antes do show, uma apresentação de rotas de fuga, deveria ter sprinklers aspersores de água automáticos, extintores de incêndio multiuso, rota de fuga de fácil acesso e iluminada, brigadistas treinados para situações de emergência, grandes portas de emergência, sinalizações visíveis, leiaute dinâmico, para facilidades do necessário ordenamento em casos inseguros.
Enfim, uma análise mais detalhada, uma vistoria mais criteriosa e feita por profissional de segurança, com certeza, trariam muito mais benefícios para os visitantes daquela casa de espetáculos.
Vale uma reflexão? Tenho certeza que sim, para implantação das imprescindíveis e necessárias ações de segurança no Lupus Bier, de formas a não deixar que o show acabe antes da hora e que a GRAÇA NÃO DÊ ESPAÇO À POSSÍVEL DESGRAÇA.

5 de fev. de 2012


Dr. Explicação – Hora de sair de Cena.

Mesmo sendo estandarte de poucos seguidores e não querendo impor ou ser destaque de melhor ou aquele que reúna as mais brilhantes idéias ou atitudes, o Dr. Explicação é o tipo do ser que pode ser referenciado como o “cara”, aquele que tudo sabe ou se não sabe tem alguma explicação para dar, alguma história para contar ou algum jeito para tratar a situação, independente a que a mesma se refira. 
 
É um Dom? Não, é uma forma de vida, é uma forma de transferir conhecimentos ou mesmo conhecer algo mais transferindo informações, às vezes sem objetivo algum. É o tal do passar o tempo, sem que o tempo precise ser passado, pelo menos no momento.
Não se há de querer valor algum em quem sabe mais em tempo de que menos vale o saber, literalmente, daquilo que de nada é importante para o passar a vida.
Pior que saber é quando o saber pode agregar desconforto para os que não sabem e não precisam saber tanto. Isto em consonância com o que de importante é necessário para o passar do tempo. Cabe, sim, ter as informações, mas delas não trazê-las à baila, quando de muito não haverá valia. 
Por que o saber desvaloriza quem sabe?  Irremediavelmente, o poder que se pauta no conhecimento traz, também, desconfortos principalmente quando não há necessidade do mesmo para a vida. 

Já de muito tempo, o ser humano vem se enxergando em uma vida mais simples, mais comedida e mais pacata, principalmente devido ao progresso e aos estouros das tecnologias e do crescimento descontrolados de tudo pelo nada. Invariavelmente, o “homem” sente a falta da vida pacata, da cidade do interior, do substituir o prático apertar de um botão pelo simples não precisar de botão algum. O ponto final não chega, a vida se alonga nas banalidades e as incertezas são mais certas. Estamos na era do inventar o que, por que e para que?
O conhecer, o ser solucionador, o ter o “pulo do gato” para situações  esdrúxulas, ser líder ou “Bam-Bam-bam”, mesmo sem que haja intenção de tirar proveito disso, não se constitui em arregimentar, ter simpatizantes, seguidores ou mesmo adeptos, na verdade nessa visão pode-se estar construindo uma barreira intransponível para que as pessoas cheguem mais perto do seu ser, daquilo que é importante e significativo para a vida humana.

O ser humano por característica de formação, mesmo aquele mais dotado de tudo, em situação de desconforto para quem quer que seja,  busca no mais desprovido o apoio, o conforto ou a atenção, estas em duplo sentido. Não importa o grau de ligação entre as pessoas, o acalanto, geralmente, dirige o foco para os mais desprotegidos. 

As dificuldades enfrentadas pelas barreiras do conhecimento nem sempre são perceptíveis, mas estão alicerçadas nas dificuldades em que o dia-a-dia das demonstrações do próprio conhecimento expõe  o Dr. Explicação que, em contrapartida, perde o relacionamento afetivo entre aqueles com os quais convive. Nessa fase, o silêncio é a melhor etapa do aprender. O repensar é a saída e o deixar correr-solto, de repente, é a melhor maneira de se viver em paz, em harmonia e, acima de tudo, concordando com muito daquilo que feito ou desfeito não trará expressiva importância para o viver nesse mundo de meu Deus, Amém!

8 de jan. de 2012


Tata-de-Inquice

Apesar de ter nascido na bela cidade de Cachoeira/Bahia, terra de muitas religiões e com forte predominância do candomblé, não tinha noção do significado desta expressão.
De longe, vejo uma fogueira à beira da praia e, na areia, várias velas envoltas a rudimentares proteções dão um toque de claridade rompendo a escuridão característica de uma noite em que a lua se esconde nas nuvens de um tempo não muito bom.

Aos poucos e um tanto quanto receoso, vou me aproximando para conhecer de perto o que de longe parecia um momento de concentração espiritual de alguma seita. Claro que estava com receio da receptividade. Vi, ainda distante, que todos estavam vestidos de branco e usavam turbantes. 

Algumas senhoras responderam às minhas perguntas a respeito do que se tratava e se eu poderia registrar, com a minha Nikon, todo o ritual, indicando-me para conversar com um homem, aparentemente, jovem.
 



E o preconceito começou a ir por água abaixo.

O Tata-de-Inquice é o jovem que passou a me explicar que naquele momento estava sendo realizado um ritual de origem africana no segmento do candomblé e que se constituía em descarregar todos os males ou encostos adquiridos em 2011, purificando, cada um dos participantes, para a entrada no novo ano.

Tudo isto ao som dos atabaques.
Em recompensa por essa dádiva das “entidades” que poderiam se incorporar em qualquer participante, pois todos, inclusive os filhos-de-santo iniciados, dançam e entram em transe com o seu Orixá, várias oferendas são, em determinado momento do ritual, lançadas ao mar.
O ritual encera-se à luz do sol do primeiro dia de janeiro, mas a noite é longa e várias etapas seguem a tradição e orientação espiritual.  Nada é por acaso.
O Tata-de-Inquice é o Sacerdote da celebração, é o Pai-de Santo, o mentor a quem todos seguem e cumprem as orientações. 

Roberto, conhecido como neguinho e, também, “cutaleci”, pertence a uma colônia da cidade de Una, no interior da Bahia. 
Em Una, com os seus adeptos, ele é o Tata-de-Inquice da comunidade e foi o esclarecedor das minhas duvidas a cada etapa do evento, tendo como segunda pessoa na condução do seu “terreiro” a Mãe Pequena e algumas Mães de Santo, como a Francisca conhecida como  “mean kean”.

Todas as etapas são realizadas, os atabaques não param, as vozes entoam cânticos de origem nagô, as rodas de dança das filhas de santo são orientadas pelos mentores, os banhos de folhas, pipocas e águas bentas dão o “descarrego” dos maus apegos do ano que se finda e a concentração nas rezas e gestos aos Pais Espirituais, com súplicas de bons caminhos em todo o ano que começa, dão a credibilidade aos pedidos que são retribuindos aos DEUSES pelo tudo tido ou pedido, com oferendas simples, até artesanais, mas visíveis pelos clarões da fogueira feita com palha dos coqueiros que rodeiam o local sagrado escolhido.

Vai-se o ano e ou outro começa no amanhecer do dia. Todos já se foram as rezas foram feitas as oferendas entregues, com todo o ritual à Yemanjá que é a Rainha do Mar, representante maior para o encaminhamento dos pedidos e mentora das dádivas das graças merecidas.
De tudo ficou a certeza da missão cumprida e da recompensa, fortalecida na FÉ e na ESPERANÇA por melhores dias, nas etapas do novo ano onde a PAZ, talvez, seja o pedido maior de todos, independente se alguns itens das oferendas foram devolvidos pelo mar. 

Pois a vida continua, a natureza é bela, a esperança é a força da existência e o que nos é dado por essa vastidão de mares, terras e criaturas, com me falou José Alves (pescador de Itabuna/Ba) ao lançar a sua tarrafa em busca de Rubalos, Tainhas e Carrapetas (peixes da região), já são oferendas do PAI superior, sem sombra de dúvidas, bem maiores das que  proporcionamos a nós mesmos, aos outros e ao próprio DEUS.
Axé ! E que venham os novos anos com muito amor.

17 de dez. de 2011

A FORMALIDADE DA INFORMALIDADE



Não há como estar ausente ou mesmo sentir-se ausente dos inúmeros pontos da informalidade que vivenciamos a cada canto em que nos encontramos. No Brasil, é crescente o número de pessoas que, mesmo sem visualizar melhoria alguma nas suas vidas profissionais, tem como alternativa o enfileiramento nas parcas opções de oportunidades de ser "alguém", contando com a sorte que às vezes não passa nem por perto quanto mais ser considerada companheira. 

O mercado de produtos diversos, clandestinos por procedência duvidosa, é crescente, constante e vem ajudando muitas pessoas e prejudicando outras tantas. Vende-se de tudo, nada se garante e muito menos há contribuição com o social. Não há recolhimento de impostos e muito menos divisão adequada dos lucros. A exploração deixou de ser pela “escravidão” e passou a ser pela “evolução”, pois ganha-se o quase nada, para não ficar com o nada.
Nas esquinas, praças, ruas de todos os sentidos, internet e todo e qualquer ponto que possa ter algum movimento há alguém vendendo algo do que nem precisamos, mas que lhe é muito mais preciso trocar por algum valor.

Não há regionalização do comércio. Não há especificidade de algo de interesse e sim de tudo mesmo sem interesse, não existe foco especifico de quem vende, pois não há necessidade de ninguém comprar o tudo que lhe é apresentado.
Compramos o que não precisamos, com o dinheiro que não temos, para fazer inveja a aquém que não gostamos, isso ouvi, uma certa vez, de um comentarista de televisão, quando se referia à falta de rumo do mercado informal,os seus prejuízos à economia e o engodo em que a sociedade estava metida. Achei muito interessante e podemos observar que o crescimento da economia informal não contribui com a diminuição da miséria e sim do foco sobre o nível de miséria e quem é o "miserável".
Na verdade, a facilidade para aquisição de bens, de um modo geral, atingiu a todas as classes sociais.
O endividamento é maior que a receita da grande maioria dos brasileiros, a economia está bastante movimentada, mas o capital de giro, a “grana” no bolso, deixou de existir, o dinheiro de plástico passou a ser a “bola da vez” e está completamente atrelado ao poder das instituições financeiras que a cada dia ganha e re-ganha e o povo se arreganha. Cada qual no seu “quadrado”.
É o presente do futuro que queríamos no passado. Hoje estamos nele.
E agora?